Encontro de Marliéria reúne cultura, história, sustentabilidade e cicloturismo

Neste final de semana, a cidade de Marliéria, será palco de um evento cultural e acadêmico que promete destacar a história, o turismo e a sustentabilidade na região. O Encontro de Marliéria contará com uma mostra de filmes e uma série de palestras e debates que abordarão temas como o legado histórico da cidade, o turismo na região do Leste Mineiro e a transição energética. Com uma programação diversificada e palestrantes de renome, o Encontro de Marliéria promete ser um espaço rico para reflexões sobre o passado e o futuro da região.

O evento começa na noite de sábado, 22, com a exibição de quatro filmes:
20h30 – Fazenda Paiol
20h45 – Myself
21h – A Colônia Luxemburguesa
21h30 – Krenak: História de Resistência

No domingo, 23, o evento segue com uma série de palestras que exploram a história local, o turismo e questões ambientais:

9h – Os Caminhos do Ouro no Leste Mineiro e sua releitura para o Turismo – Com Mário Carvalho Neto, historiador e jornalista, editor da revista Caminhos Gerais.
9h45 – Pontos Biográficos de Guido Marlière e sua atuação no interior de Minas – Ministrada por João Costa Aguiar Filho, Mestre em Direito e Doutor em Planejamento Urbano.
10h45 – A Viagem do Martelo no leito do Watú: um percurso entre cachoeiras, antropófagos e Imatós Botoques – Com Elizeu Assis, Fernando Garcia, Marcelo Sputnik e César Luz, autores do projeto.
11h30 – Transição energética e créditos de carbono: oportunidades para o Vale do Rio Doce – Apresentada por Antônio Nahas, economista, escritor e empresário.
12h15 – Debate final.

Local e Inscrições
O evento será realizado no Canto Dadé Pousada e Bistrô, localizado na Rua Rafael Moreira da Silva, 120, no centro de Marliéria. Os interessados podem se inscrever pelo telefone (31) 988774147 (Denise).

Confira um pouco a historia do tropeirismo no Vale do Aço

O tropeirismo foi um dos principais meios de transporte de mercadorias no Brasil entre 1824 e 1970, utilizando burros de carga e carros de boi para conectar povoados e centros comerciais. Enquanto os burros eram mais ágeis e adaptáveis às trilhas, os carros de boi, apesar da maior capacidade de carga, eram mais lentos e exigiam técnicas específicas para descidas íngremes. O sistema tropeiro foi responsável pela integração econômica da região, permitindo o comércio de café e cereais e sendo fundamental para o desenvolvimento local.

Além de seu papel econômico, o tropeirismo possuía uma organização própria, na qual os burros guia lideravam as tropas e regulavam o ritmo dos animais. Figuras emblemáticas como José André de Castro e Paulino de Castro registraram a ascensão e o declínio dessa prática, impactada pela crise do café de 1929 e pela expansão das ferrovias e rodovias. O tropeirismo começou a perder espaço a partir da década de 1930, e a última tropa foi desfeita em 1974, substituída por caminhonetes.

A história do transporte por tropas no Brasil também se cruza com a navegação dos rios Doce e Piracicaba, tema central do projeto A Viagem do Martelo no Leito do Watú. Esse documentário, quando for produzido, visa resgatar um episódio de 1827-1828, quando equipamentos foram transportados pelo Rio Doce para a instalação de uma usina de ferro em João Monlevade, que depois deu origem à Belgo Mineira, hoje ArcelorMittal . A navegação contou com o apoio de povos indígenas e foi liderada por Guido Thomaz Marlière, figura central na integração econômica e cultural da região.

O debate deste final de semana pretende conectar essa história ao tropeirismo e ao cicloturismo, reforçando o potencial do turismo histórico e ecológico. Expedições em caiaque estão sendo realizadas para observar os impactos ambientais e as transformações nos rios ao longo do tempo. A industrialização modificou drasticamente o cenário, trazendo desenvolvimento, mas também degradação ambiental.

Dessa forma, tanto o tropeirismo quanto a navegação fluvial foram fundamentais para a construção da identidade econômica e cultural da região. Ambos os temas ressaltam como os caminhos do passado ainda reverberam no presente, seja na preservação de tradições, como a malhação do Judas em Marliéria, seja na reflexão sobre o impacto da industrialização no meio ambiente e na economia local.

Neste contexto, o Projeto Vales dos Tropeiros Cicloturismo, no Vale do Aço, surge como uma iniciativa fundamental para reviver essa rica história e fortalecer o turismo histórico e ecológico da região. Inspirado nas antigas rotas tropeiras, o projeto promove a conexão entre cultura, natureza e esporte, permitindo que ciclistas percorram os mesmos caminhos trilhados pelos tropeiros no passado.

Além de resgatar a memória do tropeirismo, a iniciativa incentiva o desenvolvimento sustentável, movimentando a economia local e promovendo a valorização do patrimônio histórico. Assim, ao unir história e aventura, o projeto mantém viva uma tradição essencial para a identidade da região.